quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dannemann. Não só charutos!



A Bahia sempre foi conhecida pela qualidade do fumo produzido em seu território. Esta fama causou interesse de empresas internacionais que fizeram da cidade de São Félix, no Recôncavo da Bahia, a primeira produtora de charutos do Brasil. Fundada na segunda metade do século XIX pelo alemão Gerhard Dannemann, a mais antiga fábrica de charutos do Brasil iniciou sua produção com apenas seis funcionários (a Dannemann não empregava Mão de obra escrava). Após alguns anos tornou-se a maior produtora de charutos do país, além de uma importante exportadora, tendo na Europa seu principal mercado e na Alemanha, sua porta de entrada.

O grupo suíço Burger adquiriu a licença da marca em 1976, e produz até hoje os charutos, que não perderam seu prestígio na Europa. Atualmente a empresa se concentra no mesmo local. O prédio foi restaurado, mas a fábrica continua sendo exatamente no mesmo local de sua fundação, na orla de São Félix. A novidade é que se fundou o centro cultural Dannemann (mesmo prédio), que expõe pinturas, fotografias, xilogravuras e tabacaria com charutos e cigarrilhas.


Hans Leusen, Presidente da Cia. Brasileira de Charutos Dannemann e fundador do Centro Cultural, criado em 1989, com a restauração da fábrica, está muito contente com os resultados, pois o Centro Cultural é mencionado em todos os lugares como um marco na arte da Bahia.


O caráter turístico e artístico é uma das significativas mudanças da atual fase. Através de profissionais especializados, são recebidos grupos estrangeiros, equipes de reportagem, estudantes de escolas públicas e universitários. É mostrado, na prática aos visitantes, o processo de produção, a história da fábrica e suas curiosidades.

Valorizando os produtores locais
O processo inicia-se em fazendas da região. Pequenos lavradores plantam entre São José, Governador Mangabeira e Cruz das Almas, tirando da lavoura de fumo, na maioria das vezes, sua única forma de sustento. A empresa, além de valorizar a mão-de-obra local, disponibiliza como forma de auxílio a estes produtores, um técnico agrícola, sementes e adubo. Para a formação, fornece alfabetização para funcionários, inclusão digital e cursos de inglês para os filhos dos lavradores.

Devido ao teor de cloreto na terra, utiliza-se na irrigação, água processada em osmose reversa, que contribui para a diminuição de minério do solo. Desta forma cria uma folha de fumo com alta qualidade e que satisfaça o exigente mercado europeu.


São 49 dias do plantio até a colheita. Duas empresas do mesmo grupo econômico: Danco Com. e Ind. De Fumos, plantam, colhem, secam e fermentam o produto. A fermentação se dá através do calor da estufa e de sua arrumação em pilhas. Após esta etapa, o fumo é vendido para a Cia Brasileira de Charutos Dannemann, que produz os charutos para exportação.


As charuteiras

Funcionárias com roupas típicas de “Baianas”, com lenços coloridos na cabeça, produzem o famoso charuto em um salão amplo e aberto ao público. Cada uma em sua bancada de madeira feita especialmente para o fabrico, igualmente ao antigo modo de produção.

Acostumadas com a visita de grupos de estudantes, pesquisadores, professores e curiosos, as atuais charuteiras, como são chamadas, demonstram muita hospitalidade e simpatia com os visitantes. A produção é artesanal, e o único aparelho utilizado é uma máquina que mede a densidade do corpo do charuto. São jogados fora todos os charutos que não passam neste teste.


Etapas da produção


1ª etapa (enchimento) – Nesta fase se inicia a produção do charuto em si. É feita a parte interna dos charutos. Folhas inteiras de tabaco são utilizadas, formando a estrutura cilíndrica. Após o enchimento é colocado um papel em sua volta, onde repousa 15 dias para o molde. O papel utilizado atualmente substitui a antiga prensa de madeira.



2ª etapa – Retira-se o papel. São cortadas as extremidades do charuto.


3ª etapa (capeamento) – Coloca-se a última folha do fumo, chamada de capa. Esta folha necessita de uma produção especial. Agrônomos especializados acompanham todo o processo. Após o capeamento é repousado mais 15 dias em uma estufa.


4ª etapa (embalagem) – É feito outro corte na extremidade. Insere-se o anel (rótulo) e o Celofane (espécie de plástico que tem como finalidade manter a umidade do produto). Depois é organizado em caixas de madeira (cedro rosa) com 5, 20 ou 25 unidades, onde finaliza o processo e fica pronto para a distribuição nas melhores tabacarias do Brasil e do mundo.

Responsabilidade social

Além da visita ao centro cultural Dannemann, a empresa disponibiliza passeios, acertados previamente, com alunos de universidades e escolas por fazendas produtoras do tabaco. Os estudantes saem de São Félix por volta de nove horas da manhã. Durante o percurso são visitadas duas fazendas ao lado de um engenheiro agrônomo que explica e dá dicas sobre as etapas de produção. Pela tarde os alunos almoçam em Cruz das Almas e de lá voltam para São Félix para a visita detalhada da fábrica e do Centro Cultural.


O charuto é uma arte. Que se pode gerar arte a partir dele já é uma novidade. Pinturas, xilogravuras, fotografias, vídeos, arte. Alfabetização, inclusão digital e aulas de inglês para filhos de pequenos lavradores. A mais antiga fábrica de charutos do Brasil mostra que a produção de charutos é apenas um de seus ideais.

Um comentário:

Toni Caldas disse...

Massa! Muito bom texto. Pena que o Danemman tenha esses "receios" fúteis que as pessoas divulguem seu conteúdo.