sábado, 8 de maio de 2010

Nunca mais, Monalisa


Após dois anos de planejamento, finalmente, conseguiria fazer a viagem dos meus sonhos: conhecer o museu do Louvre, em Paris. Sem nunca sequer ter saído de Minas Gerais, o momento transcendia de ansiedade e excitação, me sentia poderoso ao imaginar que seria o primeiro da família a conhecer outro país. Acompanhado de uma grande mochila - daquelas de trilha -, e uma menor que levaria a câmera fotográfica, o notebook e um caderno para anotações, peguei um táxi e parti em direção ao aeroporto.

Com uma hora de antecedência acomodei-me discretamente na cadeira do canto, donde possuía um ângulo perfeito de todo o movimento. Aquele frio na barriga começou a tomar conta e um frenético batuque corporal deixava as coxas vermelhas. Quando que, finalmente, ouvi a chamada do voo 707 da Varig.

Tão concentrado em meus ideais, não percebi o tamanho do alvoroço que acontecia em minha volta. Levantei da cadeira com agonia e medo de deixar o sonho escorrer pelas mãos, estava no horário, mas não podia haver a mínima dúvida. Pelo enorme saguão, famílias, casais e mochileiros como eu, corriam com o mesmo objetivo.

Olhei para o lado e avistei uma senhora quase a bater em um funcionário da companhia, mais na frente uma menina loirinha de cabelos lisos e um rostinho delicado a chorar no colo do pai. Após esbarradas e tropeços, encontrei um céu aberto venenoso às minhas pupilas... Na aeronave, até que enfim, pude encostar minha cabeça na poltrona e apreciar aquele momento.

Após as últimas instruções da aeromoça e a confirmação da torre de controle, o comandante liga as turbinas do Boeing e, com a ajuda da física, coloca aquelas toneladas em direção às nuvens. Estava exausto... Fui acalmando do frenesi da decolagem e instantaneamente entrando no mais profundo sono. Apaguei por uns quarenta minutos e ao despregar as pálpebras parecia que tinha sido engolido por um imenso ciclone. Tudo balançava e minhas vísceras pareciam não mais querer aquele corpo! Surgiram máscaras de oxigênio e as aeromoças não sabiam se rezavam ou se amenizavam o terror. Pessoas gritavam, choravam, pediam respostas. Em estado de extremo choque, fechei os olhos com força e me pus a sonhar novamente. Sonhar com o Museu do Louvre em Paris.